Imagens carregadas de memórias afetivas constroem a narrativa poética e delicada de Um Casamento, novo documentário da artista baiana Mônica Simões que tem pré-estreia em Salvador, no Cine Glauber Rocha, dia 2 de maio, às 21h. O filme – primeiro longa-metragem da premiada videomaker, fotógrafa e artista plástica que soma quase 35 anos de carreira – fala sobre o casamento na Bahia dos anos 50, propondo a compreensão de uma época através da história pessoal de Maria Moniz e Ruy Simões, pais de Mônica, que assina roteiro, produção e direção do filme. Assinado em parceria com o artista nova-iorquino Nicolau Vergueiro, o roteiro traz uma narrativa construída a partir das impressões e reações espontâneas da personagem principal, Maria Moniz, a noiva, ao ser reapresentada a filmes e fotografias antigas do acervo da família. Essa memória concreta confronta-se a memória subjetiva da própria diretora e da personagem que, diante das câmeras, responde de forma genuína às provocações e lembranças remetidas por aquelas imagens.Pesquisadora nata, Mônica Simões idealizou o filme há 15 anos, quando pesquisava para o documentário Uma Cidade, também de sua autoria. “Quando estava na fase de recuperação dos filmes para aquele trabalho, encontrei no acervo de minha família o filme do casamento dos meus pais. Fiquei muito impressionada com o que restou dele, quase nada. Mas os efeitos do tempo sobre a película, plasticamente, tinham uma força incrível. Naquele momento descobri que gostaria de contar essa história a partir dessas imagens”, explica a diretora. Além do filme do casamento, ponto de partida para o trabalho, o rico acervo em outros suportes foi fundamental. Filmes em 16 e 8 mm em que os personagens aparecem ainda crianças, depois já como namorados em eventos familiares somam-se registros fotográficos de ambos em todas as fases da vida até as clássicas imagens da cerimônia religiosa e civil do matrimônio. “Através dos fotogramas dos filmes de época, percebemos o lugar que o casamento ocupava naquele momento. Imagens banais que se tornam ricas pela poesia que emana justamente da própria banalidade. O que interessa é justamente o que não foi dito ou revelado. Observar as questões que surgem nas entrelinhas destas imagens”, completa Mônica Simões.
Os Personagens
O noivo, Ruy Simões (1923-1996), professor de filosofia e jornalista, e a noiva, Maria da Conceição Moniz Silva (1935), atriz e jornalista, conheceram-se em 1947, e logo em seguida começaram a namorar. Casaram-se em 1954. Desta união nasceram três filhos, Mônica em 1955, Maurício em 1956 e Marta em 1957. Separaram-se em 1960. Toda essa história de amor e conflitos conjugais aconteceu na Bahia, à época bastante provinciana, em que uma separação era algo inadmissível. Ao mesmo tempo em que retrata uma história pessoal, Um Casamento propõe uma releitura sobre as fronteiras entre o público e o privado, abordando conceitos de memória, identidade, apropriação e alteridade que são universais. “É quando a história privada torna-se a história de toda uma geração e mostra os costumes de uma época. Aniversários, batizados, casamentos, separações são ritos de passagem com os quais nós, ocidentais, nos identificamos”, acrescenta Mônica Simões.
Auto Etnográfico
Contemplado pela Fundação Cultural da Bahia via edital, Um Casamento foi rodado em Salvador em 2015. A locação, por si só, é um acervo à parte. Repleto de simbolismos, o local escolhido para as gravações, chamado pela família de Boulevard – um casarão datado dos anos 30 – , tem papel essencial na narrativa. Nele, a noiva nasceu, cresceu e viveu durante toda a vida e mora até hoje. A relação de Maria Moniz com o casarão, a interação com seus cômodos e as lembranças contidas ali, aparecem como elemento importante no desenvolvimento da narrativa. Para Mônica Simões, o filme traz uma abordagem poética e, sobretudo afetiva das questões que levanta. “Quando mergulho em projetos e obras auto etnográficas, cada vez mais incorporo o processo de trabalho à própria obra. Um Casamento explora este fascínio que a imagem exerce sobre mim, através das fotografias e filmes com as quais tenho mais intimidade e maior relação afetiva: as do acervo da minha família, território íntimo onde reconheço as pessoas, onde me reconheço”, define. Além dela, o filme conta ainda com outras duas gerações de sua família na equipe: a filha Carolina Câmara assina o Still e a neta Maria Alice Terra o Still adicional. A trilha sonora é do também baiano Luisão Pereira (Dois em Um), que compôs temas para o especial infantil “A Terra dos meninos pelados”, da Rede Globo, além de trilhas para vários filmes de cinema e publicidade. A equipe conta ainda nomes de destaque no audiovisual brasileiro: na direção de fotografia e câmera, Mush Emmons ("Hansen Bahia", "Revoada" e premiado no Festival de Guarnicê por "Caçadores de Saci"); montagem de Jordana Berg (“O desmaio da planície”, de Walter Carvalho, “Últimas Conversas”, de Eduardo Coutinho, entre outros); produção de Mônica Simões, Beatriz Carvalho, Rafael Sampaio; produção executiva de Mônica Simões e João Calmon; assistência de direção e roteiro de Nicolau Vergueiro; direção de arte de Raquel Rocha.
UM CASAMENTO – SINOPSE
DOCUMENTÁRIO. Filme sobre um casamento que aconteceu na década de 50, em Salvador, Bahia. A narrativa se constrói através do confronto de memórias. A memória subjetiva, composta pelas lembranças da personagem central, Maria Moniz (a noiva) e de sua filha, a diretora Mônica Simões, com a memória concreta representada pelos filmes de arquivo, fotografias, documentos e a casa da família. Absorvendo como linguagem os efeitos do tempo nesses objetos e na própria memória. Brasil, 2016. De Mônica Simões. Com Maria Moniz. 80 min.
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